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Sala de imprensa

Mecanismos de ação e eficácia dos rodenticidas anticoagulantes em programas de desratização urbana


Revisão: Nelson Pagno Moreira, Biólogo – CRBio 130.071/01-D

RESUMO
Os rodenticidas anticoagulantes representam a principal estratégia química empregada no manejo de roedores sinantrópicos em ambientes urbanos. Essas substâncias atuam por inibição do ciclo de regeneração da vitamina K, provocando coagulopatia progressiva, hemorragias internas e morte tardia dos indivíduos expostos. Evidências científicas indicam que o período de latência entre a ingestão da isca e o aparecimento dos sinais clínicos varia entre 2 a 7 dias, com óbito geralmente entre 5 a 14 dias, a depender da substância ativa, dose ingerida e espécie-alvo. O presente trabalho revisa os principais mecanismos bioquímicos, a farmacodinâmica, os efeitos comportamentais pré-letais e as implicações técnicas para programas profissionais de desratização.
1. INTRODUÇÃO
O uso de rodenticidas anticoagulantes consolidou-se como um dos pilares das estratégias de controle de roedores em áreas urbanas devido à sua eficácia, ação prolongada e baixo risco de indução de aversão alimentar. Sua adoção está alinhada às diretrizes de manejo integrado de pragas e aos manuais técnicos oficiais destinados ao controle de roedores sinantrópicos no Brasil (BRASIL, 2002).
2. CLASSIFICAÇÃO DOS ANTICOAGULANTES
Os rodenticidas anticoagulantes são divididos em duas gerações, de acordo com sua potência, meia-vida e quantidade de ingestões necessárias para induzir toxicidade (VALCHEV et al., 2008; KING et al., 2015):

  • Primeira geração: warfarina, coumatetralyl, clorofacinona, diphacinona. Exigem múltiplas ingestões.
  • Segunda geração: brodifacoum, bromadiolona, difenacoum, difetialona e flocoumafen. São mais potentes e geralmente induzem toxicidade com uma única ingestão.
As substâncias de segunda geração apresentam maior persistência em tecidos hepáticos e maior risco de envenenamento secundário em predadores e carniceiros (COX; SMITH, 1992).
3. MECANISMO DE AÇÃO BIOQUÍMICA
O mecanismo fundamental consiste na inibição da enzima vitamina K epóxido redutase (VKOR), responsável pela regeneração da vitamina K na sua forma ativa no fígado (KING et al., 2015; VALCHEV et al., 2008).
A vitamina K ativa é indispensável para a carboxilação dos fatores de coagulação II, VII, IX e X. Sua inativação impede a formação adequada de trombina e fibrina, levando à instalação de coagulopatia grave. O efeito é progressivo, pois os roedores possuem estoques iniciais de fatores de coagulação, que se esgotam em poucos dias.
4. LATÊNCIA, SINAIS CLÍNICOS E TEMPO ATÉ O ÓBITO

4.1 Fase de latência
Após ingestão da isca, alterações laboratoriais como prolongamento do tempo de protrombina ocorrem geralmente entre 2 e 5 dias (TAUER, 2025). Os sinais clínicos surgem normalmente entre 3 e 7 dias, variando conforme a substância ativa, dose ingerida e metabolismo da espécie-alvo.
4.2 Fase clínica
Os sinais típicos incluem letargia, anorexia, dispneia, palidez de mucosas, sangramentos cutâneos e cavitários, dificuldade locomotora e hemorragias internas. Em casos graves, há colapso circulatório por hipovolemia (VALCHEV et al., 2008).
4.3 Tempo até a morte
Estudos experimentais relatam que o óbito ocorre, em média, entre 5 e 14 dias após a ingestão de dose tóxica, podendo prolongar-se em função da substância ou da quantidade ingerida (VALCHEV et al., 2008; KING et al., 2015).
5. ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS PRÉ-LETAIS
Pesquisas etológicas demonstram que, durante a fase pré-letal, roedores intoxicados apresentam mudanças comportamentais relacionadas ao declínio fisiológico, tais como (COX; SMITH, 1992):
  • Redução da tendência à thigmotaxis (preferência por áreas próximas a paredes),
  • Aumento de exposição em áreas abertas,
  • Mudança no padrão de atividade,
  • Busca por novos microabrigos,
  • Movimentação irregular decorrente de anemia e hipovolemia.
Essas alterações explicam o fato de, durante o tratamento, os roedores poderem tornar-se mais visíveis ao ocupante do ambiente antes da morte.
6. IMPLICAÇÕES PARA PROGRAMAS DE DESRATIZAÇÃO
A aplicação satisfatória dos rodenticidas anticoagulantes exige:
  1. Manutenção das estações de isca protegidas de organismos não-alvo;
  2. Monitoramento do consumo e reposição técnica adequada;
  3. Compreensão da latência farmacológica, evitando interpretação precipitada de falha do tratamento;
  4. Integração com medidas estruturais, como vedação, eliminação de abrigos e manejo de resíduos;
  5. Conformidade com diretrizes técnicas e sanitárias (BRASIL, 2002).
O conhecimento do mecanismo de ação e dos padrões de latência é fundamental para orientar adequadamente o cliente e interpretar corretamente os resultados do programa.
7. CONCLUSÃO
Rodenticidas anticoagulantes permanecem como ferramentas essenciais no controle de roedores sinantrópicos. Sua eficácia está diretamente relacionada ao entendimento de sua farmacodinâmica, que inclui ação retardada, período de latência fisiológica e alterações comportamentais pré-letais. O intervalo de 3 a 10 dias frequentemente utilizado como referência prática se alinha ao conhecimento consolidado na literatura científica sobre latência bioquímica, tempo de manifestação clínica e mortalidade.
A correta interpretação desses processos é indispensável para a execução de programas profissionais de desratização, reforçando a importância do acompanhamento técnico especializado e do manejo integrado de pragas.
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Controle de Roedores. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002.
COX, P.; SMITH, R. H. Rodenticide ecotoxicology: pre-lethal effects of anticoagulants on rat behaviour. In: Proceedings of the Fifteenth Vertebrate Pest Conference. University of Nebraska, 1992.
KING, N. et al. Long-Acting Anticoagulant Rodenticide (Superwarfarin) Poisoning: A Review of Its Historical Development, Epidemiology, and Clinical ManagementTransfusion Medicine Reviews, 2015.
TAUER, D. Anticoagulant Rodenticide Poisoning in AnimalsMSD Veterinary Manual, 2025.
VALCHEV, I. et al. Anticoagulant rodenticide intoxication in animals – a reviewTurkish Journal of Veterinary and Animal Sciences, 2008.

Nelson Pagno Moreira – Biólogo, CRBio 130.071/01-D, Especialista em Gestão Ambiental
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