Revisão Bibliográfica:
A instalação de usinas hidrelétricas envolve modificações profundas no ambiente físico e climático da região de influência. Embora a escolha do local esteja prioritariamente relacionada à hidrografia e ao relevo, fatores climáticos — especialmente a temperatura — exercem influência tanto no planejamento quanto nas alterações que ocorrem após a formação do reservatório. Diversos estudos nacionais e internacionais têm evidenciado que grandes corpos d’água artificiais produzem mudanças mensuráveis no microclima local, incluindo elevação de temperatura média, alteração na amplitude térmica e aumento da umidade.
1. Influência da temperatura no regime hidrológico pré-implantação
Antes da construção, as condições térmicas regionais determinam processos como evaporação, disponibilidade hídrica e estabilidade da vazão dos rios. Regiões de clima tropical e subtropical, típicas do Brasil, apresentam alta sensibilidade às variações de temperatura no ciclo hidrológico, afetando a projeção do desempenho energético das hidrelétricas (IPCC, 2021; EPE, 2019).
2. Efeitos microclimáticos da criação do reservatório
A formação de extensos reservatórios altera diretamente o balanço térmico da superfície. A água possui alta capacidade de armazenamento de calor, absorvendo energia durante o dia e liberando-a lentamente durante a noite. Esse processo reduz a amplitude térmica diária, porém eleva a temperatura mínima noturna e, em muitos casos, a média local.
Monitoramentos ambientais realizados em grandes usinas brasileiras apontam:
Estudos internacionais em reservatórios tropicais corroboram esta tendência, demonstrando que ambientes artificiais aquáticos funcionam como “ilhas de calor úmidas”.
Referências:
3. Relação entre geografia, clima e escolha do local
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL, 2016) destaca que a definição de áreas prioritárias para hidrelétricas considera a regularidade hídrica, mas fatores como evaporação — fortemente dependente da temperatura — entram no cálculo do volume útil dos reservatórios. Em regiões muito quentes, a perda de água por evaporação pode ultrapassar 1.500 mm/ano, o que requer estudos de viabilidade adicionais.
Referências:
4. Efeitos da temperatura na qualidade da água e nos ecossistemas
Temperaturas mais elevadas após a formação do reservatório reduzem o teor de oxigênio dissolvido, favorecem estratificação térmica e aumentam o risco de eutrofização. Isso exige monitoramento constante e manejo ambiental especializado para evitar prejuízos à fauna aquática e à operação (Silva et al., 2018).
Referência:
Conclusão
Com base em dados ambientais de grandes reservatórios brasileiros, literatura científica internacional e relatórios técnicos de concessionárias, é possível afirmar que a construção de usinas hidrelétricas tende a elevar as temperaturas locais, especialmente:
Portanto, existe uma relação direta e comprovada entre o aumento de temperaturas locais e a construção de usinas hidrelétricas, caracterizando um efeito climático regional gerado pela presença do reservatório.
Nelson Pagno Moreira
Biólogo, Especialista em Gestão AmbientalCRBio: 130.071/01-D